Desrespeitando as duas primeiras regras do Clube da Luta...
Há filmes que divertem. Outros, provocam reflexão. E raros conseguem as duas coisas. Este é um deles.
"A Primeira regra do Clube da Luta é: você não fala sobre o Clube da Luta! A segunda regra do Clube da Luta é: você NÃO fala sobre o Clube da Luta!"
Clube da Luta (Fight Club) é baseado no romance homônimo de Chuck Palahniuk. Antes mesmo da sua publicação (em 1996), um rascunho do mesmo caiu nas mãos de pessoas ligadas a Fox, que, inicialmente, não deram muita atençao. Mas os produtores Josh Donen e Ross Bell se interessaram a ponto de gravarem uma leitura do romance com atores (estratagema usado na indústria cinematográfica para, entre outras coisas, tirar uma ideia da metragem do filme) e enviou a versão editada para Laura Ziskin (que trabalhou nas quatro últimas adaptações cinematográficas do Homem-Aranha), na época à frente da divisão Fox 2000, que investiu US$ 10.000,00 dólares na compra dos direitos para uma adaptação cinematográfica da história.
Laura viu em Clube da Luta traços de A Primeira Noite de Um Homem (The Graduate, 1967) e conversou com Buck Henry, roteirista deste filme, imaginando-o executando a mesma tarefa no novo projeto. Donen, no entanto, fez pressão e terminou convencendo a chefe a contratar Jim Uhls (Jumper, 2008) como roteirista.
"Somos consumidores! Somos subprodutos de uma obsessão por um estilo de vida. Assassinato, crime, pobreza... Essas coisas não me interessam. O que me interessa são revistas de celebridades, televisão com 500 canais, o nome de uns caras nas minhas cuecas..."
Bell, por sua vez, começou a busca por um diretor. Tentou Peter Jackson (O Senhor dos Anéis - The Lord of The Rings -, 2001-2003), mas este alegou que estava muito ocupado com as filmagens de Os Espíritos (The Frighteners, 1996). Bryan Singer (X-Men - X-Men, The Movie - e X2, 2000 e 2003, respectivamente) não demonstrou interesse sequer para ler o livro que foi enviado pra ele, o que não ocorreu com Danny Boily (Trainspotting - Sem Limites - Trainpotting -, 1996), que leu, gostou e chegou a considerar seriamente a possibilidade de embarcar na empreitada. Foi quando David Fincher entrou na parada.
David via o filme com potencial para ser o A Primeira Noite de Um Homem ou o Juventude Transviada (Rebel Without a Case, 1955) do fim do século XX. O primeiro teria em comum com Clube da Luta o tema da emancipação, mas com uma abordagem diferente:: enquanto Benjamin Braddock (Dustin Hoffman) é um personagem que vê um amplo leque de possibilidades surgindo à sua frente, o Narrador se vê acomodado, sem enxergar nenhuma saída, nenhuma forma de mudar a sua vida. Já com o segundo filme, temos o tema de pessoas insatisfeitas diante do sistema.
Um primeiro rascunho do roteiro de Uhls não utilizava o recurso de voice-over (ou narração off-câmera). David achou que assim o filme ficaria "triste", sem o humor que seria agregado pela voz do Narrador. Uma nova versão foi exaustivamente trabalhada pela dupla, que depois contou com o acréscimo dos serviços de Andrew Kevin Walker - roteirista de Se7en, de 1995, e 8mm, de 1999 (aliás, há uma cena em Clube da Luta em que surgem três detetives: Andrew, Kevin e Walker, uma homenagem ao roteirista não creditado) - e os conselhos de Cameron Crowe - diretor e roteirista, que trabalhou em filmes como Jerry Maguire (1996) e Vanylla Sky, de 2001. Por fim, Edward Norton e Brad Pitt foram chamados para ajudar no roteiro, que assim passou por, pelo menos, cinco revisões.
O Estúdio aprovou um orçamento de US$ 23.000.000,00, posteriormente aumentados para US$ 50.000.000,00. Quando foi pedido um acréscimo de US$ 17.000.000,00, a New Regency, responsável por 50% do investimento, ameaçou cair fora do projeto, sendo convencida a continuar depois que seus principais executivos assisitiram a três semanas de filmagens. Os custos terminaram sendo de US$ 63.000.000,00.
No próximo post, um pouco sobre as filmagens e a história deste clássico.
"Primeiro, você tem que se entregar. Primeiro, tem que saber - não temer! - saber que um dia você vai morrer. Só depois de perdermos tudo é que estamos livres pra fazer qualquer coisa."
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