quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Filmes para Ver Antes de Morrer : Clube da Luta (Parte Um)



Desrespeitando as duas primeiras regras do Clube da Luta...


Há filmes que divertem. Outros, provocam reflexão. E raros conseguem as duas coisas. Este é um deles.


"A Primeira regra do Clube da Luta é: você não fala sobre o Clube da Luta! A segunda regra do Clube da Luta é: você NÃO fala sobre o Clube da Luta!"

Clube da Luta (Fight Club) é baseado no romance homônimo de Chuck Palahniuk. Antes mesmo da sua publicação (em 1996), um rascunho do mesmo caiu nas mãos de pessoas ligadas a Fox, que, inicialmente, não deram muita atençao. Mas os produtores Josh Donen e Ross Bell se interessaram a ponto de gravarem uma leitura do romance com atores (estratagema usado na indústria cinematográfica para, entre outras coisas, tirar uma ideia da metragem do filme) e enviou a versão editada para Laura Ziskin (que trabalhou nas quatro últimas adaptações cinematográficas do Homem-Aranha), na época à frente da divisão Fox 2000, que investiu US$ 10.000,00 dólares na compra dos direitos para uma adaptação cinematográfica da história.


Laura viu em Clube da Luta traços de A Primeira Noite de Um Homem (The Graduate, 1967) e conversou com Buck Henry, roteirista deste filme, imaginando-o executando a mesma tarefa no novo projeto. Donen, no entanto, fez pressão e terminou convencendo a chefe a contratar Jim Uhls (Jumper, 2008) como roteirista.


"Somos consumidores! Somos subprodutos de uma obsessão por um estilo de vida. Assassinato, crime, pobreza... Essas coisas não me interessam. O que me interessa são revistas de celebridades, televisão com 500 canais, o nome de uns caras nas minhas cuecas..."

Bell, por sua vez, começou a busca por um diretor. Tentou Peter Jackson (O Senhor dos Anéis - The Lord of The Rings -, 2001-2003), mas este alegou que estava muito ocupado com as filmagens de Os Espíritos (The Frighteners, 1996). Bryan Singer (X-Men - X-Men, The Movie - e X2, 2000 e 2003, respectivamente) não demonstrou interesse sequer para ler o livro que foi enviado pra ele, o que não ocorreu com Danny Boily (Trainspotting - Sem Limites - Trainpotting -, 1996), que leu, gostou e chegou a considerar seriamente a possibilidade de embarcar na empreitada. Foi quando David Fincher entrou na parada.


Fincher já era fã do livro (tinha até tentado comprar os direitos pra adaptação) 
e, principalmente, tinha uma visão de como deveria ser o filme que ia de encontro 
a imaginada por Laura. Vencido dois problemas 
- o medo do diretor de que sua paixão pelo material original toldasse sua visão para o trabalho 
e um certo desconforto que havia entre ele e a Fox por conta de problemas na filmagem de 
Alien 3 (Alien³, 1992) - Fincher foi anunciado como diretor em agosto de 1997 
e começou a trabalhar ao lado de Uhls no roteiro.
David via o filme com potencial para ser o A Primeira Noite de Um Homem ou o Juventude Transviada (Rebel Without a Case, 1955) do fim do século XX. O primeiro teria em comum com Clube da Luta o tema da emancipação, mas com uma abordagem diferente:: enquanto  Benjamin Braddock  (Dustin Hoffman) é um personagem que vê um amplo leque de possibilidades surgindo à sua frente, o Narrador se vê acomodado, sem enxergar nenhuma saída, nenhuma forma de mudar a sua vida. Já com o segundo filme, temos o tema de pessoas insatisfeitas diante do sistema.


Ao contrário do desejo do Estúdio, que queria um nome com mais apelo, seja em sex appeal, como Matt Damon
seja comercial, como Sean Penn, o diretor, impressionado com o trabalho de Edward Norton em 
O Povo Contra Larry Flint (The People Vs. Larry Flint, 1996), escolheu-o para o papel do Narrador - 
o personagem, apesar de adotar vários nomes durante o filme (Cornelius, Rupert, Jack, Travis, Tyler... 
Repararam que alguns parecem tirados  do filme Planeta dos Macacos - Planet of the Apes, 1968 - e de diversos 
personagens clássicos interpretados por Robert De Niro?), em momento nenhum assume algum como verdadeiro, 
embora no roteiro ele tenha sido sempre identificado como Jack.  
Norton abraçou o papel a ponto de topar ser filmado fumando - o que ele se negou veementemente 
a fazer em Cartas na Mesa (Rounders, 1999). 
Também topou perder a boa forma que adquirira para interpretar o neonazista Derek Vinyard em 
A Outra História Americana (American History X, 1998), 
mas aqui com uma boa sacada: Norton, Ficher e Pitt queriam mostrar a decadência física do Narrador 
diante do desenvolvimento do corpo de Tyler Durden, como uma forma de chamar a atenção para o fato de que 
quanto mais Durden se destaca - não só fisicamente, como figurinistica e psicologicamente - 
mais o Narrador se apaga em todos os sentidos. 

Um primeiro rascunho do roteiro de Uhls não utilizava o recurso de voice-over (ou narração off-câmera). David achou que assim o filme ficaria "triste", sem o humor que seria agregado pela voz do Narrador. Uma nova versão foi exaustivamente trabalhada pela dupla, que depois contou com o acréscimo dos serviços de Andrew Kevin Walker - roteirista de Se7en, de 1995, e 8mm, de 1999 (aliás, há uma cena em Clube da Luta em que surgem três detetives: Andrew, Kevin e Walker, uma homenagem ao roteirista não creditado) - e os conselhos de Cameron Crowe - diretor e roteirista, que trabalhou em filmes como Jerry Maguire (1996) e Vanylla Sky, de 2001. Por fim, Edward Norton e Brad Pitt foram chamados para ajudar no roteiro, que assim passou por, pelo menos, cinco revisões.


Sean Penn e Russel Crowe (que chegou a se reunir com o produtor Ross Bell) 
foram seriamente cotados para o papel de Tyler Durden. 
Mas Art Linson, outro produtor, convenceu a equipe que
Brad Pitt seria a escolha mais acertada para expor a mudança 
que o personagem não apenas sofre, mas provoca nas pessoas ao seu redor. 
O estúdio resolveu bancar Pitt, acreditando inclusive que 
o desenvolvimento da carreira deste lhe traria mais benefícios que a de Crowe. 
Brad, por sua vez, queria superar o fracasso de 
Encontro Marcado (Meet Joe Black, 1998). Mesmo assim,
inicialmente mostrou-se reservado, alegando que o personagem era muito raso. 
Quando foi convidado a sentar junto com os principais membros
da equipe e ajudar a reescrever o roteiro, se entregou ao projeto. 
Ele chegou a ir a um dentista e pedir que lascasse o seu dente para quebrar a 
imagem de perfeição que ia contra aquilo que ele acreditava que o filme 
queria passar.
Terminado o trabalho, pediu aos pais que não vissem o filme. Conseguiu
convencê-los quando lhes mostrou a cena em que 
o Narrador sofre uma queimadura química.

O Estúdio aprovou um orçamento de US$ 23.000.000,00, posteriormente aumentados para US$ 50.000.000,00. Quando foi pedido um acréscimo de US$ 17.000.000,00, a New Regency, responsável por 50% do investimento, ameaçou cair fora do projeto, sendo convencida a continuar depois que seus principais executivos assisitiram a três semanas de filmagens. Os custos terminaram sendo de US$ 63.000.000,00.


Para interpretar Marla Singer, Fincher convidou Janeane Garofalo - Caindo na Real (Reality Bites, 1994), 
que se recusou a fazer as cenas de sexo. Depois de recusar a esdrúxula indicação do Estúdio - 
a legalmente loira Reese Whiterspoon, atriz de Jonny e June (Walk the Line, 2005) - 
e considerar Courtney Love (do já citado O Povo Contra Larry Flint
e Winona Ryder - Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice, 1988) -, o diretor optou por
Helena Bonham Carter, com base em sua atuação em Asas do Amor (The Wings of the Dove, 1997). 
Ela conseguiu passar o ar desmazelado e, ao mesmo tempo, envolvente que a personagem pedia. 
Helena teve que usar saltos plataforma para diminuir a diferença de altura entre ela e os protagonistas 
Brad Pitt e Edward Norton (1m57cm, 1m80cm e 1m83cm, respectivamente). 

No próximo post, um pouco sobre as filmagens e a história deste clássico.


 "Primeiro, você tem que se entregar. Primeiro, tem que saber - não temer! - saber que um dia você vai morrer. Só depois de perdermos tudo é que estamos livres pra fazer qualquer coisa."



















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